opinião

A violência produzida na divulgação de cenas de violência


A pergunta é: por que algumas pessoas filmam, tiram fotos e compartilham nas redes sociais e via smartphones cenas de morte violenta e violência? A facilidade de acesso a redes sociais e a revolução tecnológica diária de interação via web são possíveis respostas. Essas respostas, talvez, sejam uma das razões que alguém, em local de acidente de veículo, antes de verificar o estado de saúde da vítima ou na dor do familiar que teve uma perda, puxe o seu samartphone, filme, tire fotos e logo repasse para seus grupos do aplicativo do WhatsApp.

O acima exposto não é a única resposta, acho que essa febre quase irracional deve merecer uma análise psicológica mais profunda, o que não pretendo fazer, por não ser de minha área de conhecimento. Mas há questionamentos imprescindíveis que devem ser feitos, com urgência, para reflexão. Por que a ânsia de publicizar atos de violência?

Um homem de 29 anos foi barbaramente assassinado por três irmãos, no dia 8 deste mês. Alguém filmou a vítima transfigurada, na ânsia da morte. Por que esse alguém não fez uma oração para a vítima ou um pensamento, uma palavra de acalanto para alguém que estava morrendo? Por que alguém achou ser mais importante filmar a cena brutal de um ser humano morrendo? E, pior, por que foi divulgada?

Não tenho respostas. A violência sempre existiu desde que o homem existe. O que não existia era a disseminação da violência tornando a vida humana sem valor, e a morte violenta uma banalidade do cotidiano. Muito perigoso.

A cena do homem morrendo em Santa Maria foi repassada a centenas de celulares. Desconsideração com a vida humana e com a família da vítima. Falta empatia, sobra pressa em filmar. Sou contra criação de novos tipos penais (crimes). O Direito Penal não é a solução para tudo, entretanto, é preciso pensar em uma forma de responsabilizar quem não é responsável, ou seja, quem filma, tira fotos em cenas de crimes ou acidentes e as divulga; entendo que se a imagem for divulgada por funcionário público, a penalidade deve ser ainda mais rígida.

Já ouvi falar que o desenho Tom e Jerry, da minha época de criança, estimulava a violência porque o Tom era muito agressivo e obstinado em maltratar o Jerry. Pois é, me parece inocente demais falar nas consequências desse desenho a uma criança, se comparada à cena de violência gravada, quando se tem acesso através do celular. Todos temos o direito de não ter violência, nem de forma virtual. "A essência dos Direitos Humanos é o direito a ter direitos" (Hannah Arendt).

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